:: Tome NotaComo anda a defesa do consumidor no Brasil?12/03/2018 11:33:00Dias
antes de deixar o comando da Secretaria Nacional do Consumidor do Ministério da
Justiça (Senacon-MJ), Arthur Rollo (foto) gravou entrevista com a jornalista Angela
Crespo para o programa Consumo em Pauta, na Rádio Mega Brasil Online, que vai
ao ar nesta segunda-feira, (13/3).
A
proposta era falar sobre a defesa do consumidor no País tendo em vista a Semana
do Consumidor com as comemorações dos 27 anos de entrada em vigor do Código de
Defesa do Consumidor (11/3) e o Dia Internacional do Consumidor (15/3). O então
secretário também fez um balanço de sua gestão à frente da Senacon-MJ, comentou
sobre os avanços e retrocessos na defesa do consumidor, sobre o Decreto do SAC,
sobre os Procons, o consumidor.gov e o
Sindec.
Rollo
destacou que a Semana do Consumidor é um período de balanço, “uma espécie de
ano novo” para a defesa do consumidor. É quando se revisita o que foi feito no
ano anterior e o que poderá ser feito nos próximos 12 meses. “O mês de março é
importante no âmbito internacional. Inclusive há pouco tempo discutiu-se em
Haia se deveria ser criada uma Semana do Consumidor para se refletir sobre as
questões consumeristas e projetar o futuro. O Brasil foi favorável, mas o
projeto ainda não andou”, destacou.
Gestão
de defesa
Sobre
sua gestão de um ano, ele brincou que foi um goleiro e tentou o tempo todo
espalmar para fora as muitas bolas chutadas ao gol. “No período em que fiquei à
frente da Senacon apareceram inúmeras iniciativas com o propósito de prejudicar
o consumidor”, diz o ex-secretário. Entre elas, destacou o distrato
imobiliário, no qual ajudou a redigir uma medida provisória com ênfase para os
direitos dos consumidores brasileiros. O texto acabou por fazer o setor recuar
ao perceber que teria mais riscos do que benefícios.
Defendeu
também a não cobrança de valores diferenciados para homens e mulheres nas
baladas, ação considerada por ele como prática abusiva, que deve ser banida do
mercado de consumo.
Para
Rollo hoje há discussões sobre o intervencionismo do Estado nas relações de
consumo e setores da sociedade pregam que o próprio mercado deve fazer suas
regulações, com o que ele não concorda. “Se o governo não se posiciona, a
realidade do consumidor brasileiro seria bem pior. O que precisamos rediscutir
é o grau de intervenção estatal, mas ainda não há maturidade para que essa
discussão ocorra.”
Ele
completa dizendo que o momento não é bom para a defesa do consumidor no País e
essa situação poderia mudar se os defensores se aproximassem mais do
Legislativo, do Judiciário, do governo. Se houvesse uma bancada de defesa do
consumidor nas Casas Legislativas. “O consumidor precisa de uma representação
forte. As empresas estão presentes diariamente no Legislativo, no governo e nas
audiências do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor (SNDC) para colocar seus
posicionamentos. Elas não estão erradas em agirem dessa forma. Mas o consumidor
também precisa ter sua representação.” Ele completa dizendo que depois de ter
passado um ano à frente da Senacon constatou que o consumidor é muito mais
vulnerável do que imaginava.
Procons
autônomos
Os
Procons, além das organizações civis, seriam estes representantes do
consumidor, na visão de Rollo. Mas as organizações civis não têm condições
econômicas para tanto e os Procons têm uma questão estrutural, de concepção.
“Cada Estado, cada município tem um formato diferente e boa parte é politizado,
o que impede uma ação integrada.”
Para
que os Procons ganhem autonomia, conforme o ex-secretário, teria de haver um
modelo único, coordenado pela Senacon e com dirigentes de carreira dos órgãos
indicados a partir de uma lista tríplice. O modelo ideal para Rollo seria o do
Ministério Público, uma instituição independente, com orçamento próprio e
carreiras definidas. “Assim evitaríamos a utilização dos Procons como trampolim
político.”
Decreto
do SAC
Quanto
ao novo texto do Decreto do SAC, Rollo enfatiza a necessidade de nova redação
tendo em vista que há muitas brechas na legislação em vigor, como o pedido da
gravação dos diálogos com a empresa por parte do consumidor. Segundo ele, se a
empresa não entregar a gravação solicitada, ela não recebe nenhuma penalidade.
Na
nova redação, foi adotado o modelo do Regulamento Geral de Direitos do
Consumidor de Serviços de Telecomunicações (RGC), da Anatel e, entre as
propostas de mudança, está a de que toda empresa tem de disponibilizar um
ambiente virtual privado para seus clientes, onde deve constar a cópia do
contrato, ter mecanismos que possibilitem o cancelamento de serviços
rapidamente e facilidade no contato com o atendente.
O
novo Decreto do SAC proíbe o telemarketing em determinados dias e horários e
obriga a identificação de quem está chamando. “O SAC, pelo artigo 4º do CDC, é
um instrumento de harmonização, de diálogo e de pacificação de conflitos. É o
caminho para se evitar a judicialização das questões de consumo”, destaca
Arthur Rollo.
Plataformas
As
duas plataformas – Consumidor.gov e Sindec – são prioridades na secretaria,
conforme Rollo, e como qualquer ferramenta há necessidade constante de
aprimoramento, o que esbarra em recursos financeiros, que são bem escassos. Este
cenário será alterado, conforme o ex-secretário. com a liberação de recursos
que estão sendo revistos pela consultoria jurídica do Ministério da Justiça.
Quando
o dinheiro for disponibilizado, no prazo máximo de três meses as plataformas
terão novos recursos. (O dinheiro que estava bloqueado para o aperfeiçoamento
das duas plataformas foi liberado no dia 7/3, após a gravação da entrevista,
por meio de um despacho do consultor-geral da União).
Para ouvir a entrevista completa com o
ex-secretário da Senacon acesse a Rádio Mega Brasil Online às 16 horas de hoje, segunda-feira.
Reapresentações na terça, às 19 horas, e na quarta, às 9 horas.
Acesse em www.radiomegabrasilonline.com.br
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